Por Nymeria Ronan

Publicado em 29/05/2024

1


Árvore de sombras, caiaste em alguém em tua vida passada?

minha irmã te enxergava de vez em quando na porta

ela te tinha medo 

fechava os olhos logo quando galho sombra aparecia 

ela colocou a boneca russa dela para te enfrentar 


Árvore de sombras fico martelando em minha mente caótica  

quais tipos de pássaros vivem em ti 

entre o passado

presente,

tu tens flores sem cores brotando nos olhos da minha irmã 


Árvore de sombras, tu farfalhas em noites quentes 

onde os estralos da casa, os estralos das pessoas matando insetos 

os estralos das pessoas curiosas provando uma casca de barata pela primeira vez 

os mosquitos zumbindo deixam meus anseios alertas 

minha irmã vira de um lado para o outro na cama, seu corpo pequeno no berço do mundo inquieto.


Teu farfalhar traz sensações de cortes que não pode ser fechados

cortes sombras.


Tu tens farfalhar dos galhos sombras em minha mente 

e em meu pulmão quando assopro inquieta.


Árvore de sombras, no verão some 

minha irmã à noite arqueia as costas cheia de saudades de ti 

ela está bem com os demônios dela pondo ovos nos teus galhos 

estou bem com meus demônios mordendo os lábios em agonia.


entre de repente no passado 

o susto imediato mata a conversa 

farfalhar alertando 

sombras afiadas sobre os olhos 


no presente o sol drena tudo

você sumiu árvore de sombras,

encontrou um bosque onde caçadores erram os tiros e te acertam.


minha irmã está melancólica, pintou a janela de azul 

ela não anda mais descalça. odeia o contato com a terra

ela provoca homens bêbados.


o azul da janela no verão enferruja.

2


Tendo em vista que esse ano 3 vulcões entraram em erupção, 

cortei o dedo descascando uma laranja, 

machuquei o pé descansando na cadeira de balanço.


Chegaste por um fio admirando as joanetes 

das bailarinas da tua escola, o fio queria tua queda assim o corte seria ao meio 

chegaste por esse fio dando em espaços de tempo choques elétricos.


Descansar era sinônimo do retorno de pensamentos hostis

como daquela vez após uma briga tomaste choque do liquidificador 

deixar a poeira baixar para o piso da casa desaparecer.


Só duas meninas colocavam suas bonecas fora de casa 

sozinhas, as bonecas olhando fixamente o horizonte 

estavam de castigo? 

não praticaram bem o silêncio na hora do chá?

não entortam bem a cabeça?

foram péssimas em aguentar os puxões, as picadas de agulha?

a falta de hierarquia as comoveu?

foram péssimas em serem possuídas por espíritos?


Possuída pela possibilidade das bonecas estarem tristes 

me deito na grama evitando olhar o horizonte 

sim, os espíritos gostam do seu corpo 

sim, os espíritos nada respeitam a solidão

sim, é muito solitário na luz.

  

Calafrio, logo em seguida a imensidão do céu toma posse da minha respiração 

cortada, tremendo as pernas 

enfiando as unhas na terra 

as bonecas continuam olhando o horizonte.


Tendo em vista que colapsei 

vista a distância parecia que eu dançava paras as bonecas 

roubaste os lençois brancos de renda que mamãe tanto gostava


vai sujar de leite

de sangue 

de saliva.


ela adquiriu outros lençois, assim contendo o inferno com renda branca 

as crianças cresceram, as bonecas não tem experiência 

as crianças cresceram nas coxas das mães

nos ouvidos dos pais 

as bonecas paradas,

não sumiram 

não olharam 

não apodreceram. 


Os ecos dentro delas apodreceram 

quem ouviu passar por ardor nas orelhas até o presente momento

alguns sentiam gosto podre em tudo 

a imensidão da não experiência delas cobra nos ossos

doloridos a cada movimento curto que dou. 


Fui péssima em ser possuída pelos meus pais.

3


Pássaros em chamas surpreendiam tua visão de vez em quando, 

de repente em tua frente o fogo batia asas se agoniava, cantava

não era justo isso acontecer quando nos beijávamos 

tu se afastava espantada gritando que meus lábios apertavam pássaros em chamas 


Falar sobre algumas situações contigo abriria abismos 

abertos esses, uma moça no fundo erguendo um espelho nos mostraria em queda 

ela assustada vendo a si mesma ensinou ao amor o paladar dos sustos 


Comecei a acreditar, sinto hoje meus lábios queimando, secos, sangrando

beijo meu pulso, o queimo 

beijo minha imagem no espelho, algo 

se retorce dentro de mim

 

Quem se alimenta dos nossos personagens deve estar gostando tanto 

mantenho minha crença infelizmente intacta, não a expondo para ti 


Pássaros em chamas vêm em teus sonhos ironicamente trazendo paz 

seus relatos desencadearam uma aflição funda em mim.

Edição: Rosana Siqueira

Revisão: Kelly Gularte