O primeiro dia de aula
Kelly Gularte
Publicado em 13 de junho de 2024.
Dados do Inep (2023) revelam que dos 178 mil docentes de inglês do Brasil, 7.555 são professoras e professores negras/os, e ao distribuir esta pequena quantidade aos 26 estados e distrito federal, se pode encontrar a justificativa do motivo pelo qual há sempre nenhuma, ou uns/umas 2, 3 professores/as pretos em cada escola.
Nesse dado, sempre retorno ao meu primeiro dia de aula, nas escolas em que já lecionei, seja pública ou privada, em que o olhar e postura de alguns/mas estudantes é quase sempre o mesmo: cheio de perguntas que questionam a minha qualificação, minha pronúncia e vivências internacionais.
Nestes 20 anos de sala de aula, às vezes, recordo do adolescente preto, preso, que não aceitava uma professora preta, porque os referenciais dele mostravam outras realidades para mulheres como eu. Ou, do estudante branco de olho azul da escola privada, que esperava uma nova professora de inglês loira, e por conta disso não falava comigo em aula.
Ainda, recentemente, em uma aula inaugural da graduação em Letras/inglês, surge uma estudante preta, que chora emocionada ao me abraçar e dizer: "que representatividade, agora tenho uma professora como eu". Estes três exemplos me marcaram e se unem aos meus saberes docentes.
Ao irem conhecendo a professora de inglês, estes estereótipos se findam e múltiplas relações sólidas de ensino e aprendizagem significativa se estabelecem.
Contudo, políticas públicas que viabilizem o acesso e permanência no ensino superior são vitais para aumentar este quantitativo que retrata uma fatia do que é ser uma professora negra no Sul do Brasil, assim como a promoção de uma educação antirracista nas escolas de todas as esferas.
Edição: Rosana Siqueira