Publicado em 22 de abril de 2023.

Luciana Bastos Siebert

É artista interdisciplinar, escritora e produtora cultural. Atualmente pesquisa a produção artística enquanto diálogos possíveis com imagens inconscientes na Galeria Útero, localizada em Balneário Camboriú / SC.

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Nêmesis do Afeto



                                                                                                                     Erudita não me visita mais. 

                                                                                                               Está perdida entre as palavras parasitas

                                                                                          Que de tanto falar, falam

                                                                                            E falam merdas malditas. 


Se penso adiante eclode o ovo e calcifico apenas o que está morto, Fantasia. Se escapo pra trás, derrubo espadas e acabo ferindo quem me aguentou até aqui. A ponta do relógio e o caldeirão que inflama me atormentam, Equilibrista do fio dourado que nunca rompe. Fantasia! Não existe substância no eco. Ninguém abandona seus verdadeiros filhotes ou esquece das plantas que podem até morrer. A verdade é cortar o cabelo na pia, Fantasia. É cuidar da fonte e levantar bandeiras. É encher balões e soprar velas, pescando em mar revolto as palavras que com certeza te fariam sorrir.

Astronauta


Tantas vozes e aqui estamos ocupando novamente o espaço.

Poucas narrativas restaram e a força do silêncio tem feito inchar os balões que separam as nuvens do céu 

impossibilitando a chuva.

Se tudo é confissão, existir consiste em pactos incessantes que promovem a separação de corpos.

Encurtar o diálogo, camuflar a visão, conter no cinismo todo o ressentimento das flores que cantam sobre o

tempo que rasga a pele de nossas verdades obscuras, subserviente alma. Queria  te afogar.

A serviço do desencontro, fogueira nas esquinas do pequeno cemitério de amores breves, de despedidas 

vazias que encontram no conforto da mentira outro berço.

Há de ter um final onde cuspimos o caroço na cara de espectros que querem destruir em outros corpos o

podre de seu reflexo.

Sempre existe uma pedra na mão do covarde.

Mas a música há de soar bem alto, insuflando o ar necessário para se ter voz, colorindo o semblante da

desesperança, embalando o corpo do sobrevivente.

Joana sente saudade.


A galinha do tempo. Das bonecas. A galinha marca o tempo na fazenda. EU E ELE aqui no sol chupando uva. Minha cara marca o tempo e o tempo marca nossa cara. Pau no cu do tempo.

Na nuvem densa que carrega o sono dessa aflição corre o riso escrachado de um descaso, de uma maldade, 

de três mil e quatrocentas palavras derrotadas e soltas na ausência espetacular desse espelho, onde tu nasce cru. E a brisa do inferno sai da minha boca, encobrindo o sol que projeta sombra nas flores que brotam do meu umbigo em tua direção. Guiada pelo teu cheiro sigo no escuro entre os ásperos corredores do estreito caminho que me aperta e me dobra. Chego a ti virada em unha, dente e osso.

E me ordenas: ressuscita! Ressuscita! Ressuscita!