Saudade*
[...] alumbramento o devir de teu alumiar rompendo os nervos do absurdo e atravessando as minhas misérias pelas passagens dos meus anos e também paragens em meu coração ainda abatido de amor, só amor
ainda sei teu nome de cor, e de trás para frente
como no tempo de minhas maiores memórias, aquele tempo antes dos esquecimentos, antes de preferir esquecer
tempo em que nos embolávamos nos fios d'os entrelaçamentos
em que a folha lambia a flor
a flor lambia os olhos
os olhos lambiam o dia
e o dia já vinha de lamber a noite
e tinha luz em mim
e eu morria menos
as horas eram longas, demoravam quase século, e a pressa não consumia os vagões nos trilhos de meu tempo
ainda sei enxergar, mesmo d'olhos fechados, mas sonhar mesmo já não sonho muito
muitos sonhos morreram em minha última morte, mas as palavras tantas que achei tivessem morrido insistem em resistir [...]
*excerto de poema escrito para a minha mãe, durante o meu luto.